Felizmente
a história nos recheia de conteúdo sobre a vida e trajetória desse gênio
militar, nos mostrando suas conquistas e vitórias, porém, a história parece não
terminar com sua biografia, ainda deixando uma série de interrogações quanto ao
legado pós-morte de Alexandre o Grande.
De
todas as suas conquistas, nada foi tão grande, misterioso ou enigmático quanto à
jornada que Alexandre empreendeu rumo ao Egito.
Alexandre
atravessou o deserto ocidental egípcio no século 4 aC, e tal deserto compreende
uma faixa que vai do Vale do Nilo até a fronteira com a Líbia, são quase 600 km,
e se é difícil de atravessa-lo hoje, era ainda pior quando Alexandre o
atravessou conduzindo seus homens 400 anos antes de Cristo.
Tal
travessia era mitificada na época como intransponível, pois alguns anos antes
da chegada de Alexandre, uma tempestade de areia destruiu um exército de
milhares de Persas, nenhuma gota de chuva caía ali, era uma travessia quase
impossível, e fato este que tornou o feito de Alexandre ainda mais glorioso, e
até lendário.
Alexandre
por fim chegou ao Egito em 332aC, se deparando com uma nação humilhada, o Egito
estava sob controle do exército Persa, e quando Alexandre expulsou os
invasores, todo o Egito o saudou como libertador, e a poderosa classe de
sacerdotes que sobreviveu ao domínio Persa rapidamente lhe deu apoio.
Alexandre
havia entrado no Egito praticamente sem usar violência, a população se rendeu
às suas exigências, Alexandre já havia conquistado 80% do mundo conhecido, já
havia se consolidado como um gênio militar, e, ao entrar no Egito ele permitiu
que a elite permanecesse no poder, porém, em troca pediu devoção e lealdade ao
seu reino.
Alexandre
então, procurou se consolidar como semideus, exatamente como os Faraós ali
foram considerados antes dele, ele então foi a Karnak, que era o centro do
político e religioso do Egito, e lá, de modo astuto, buscou fazer o mesmo que
outros grandes líderes egípcios fizeram antes dele, como Tutancâmon, Amenhotep
III ou Ramsés II, ele escreveu seu nome em templos em Karnak, e com isso, ele
se inseria na tradição dos faraós egípcios, e alegava sua legitimidade como
faraó tendo para si a sucessão do trono egípcio.
Naquele
momento, Alexandre se associava ao faraó Tutmés III, que havia sido um grande
general militar muito respeitado e venerado no Egito, foi tamanha a importância
dele que hoje os historiadores chamam Tutmés III como “Napoleão do Egito”,
Alexandre se associara como predecessor de Tutmés, e mais que isso, ele via
Tutmés como seu ancestral espiritual.
Alexandre
não somente reivindicava a história egípcia para si, mas como também a coroa
egípcia, ele se declarou posteriormente ser o filho de Amon, se tornando assim
um faraó legitimo aos olhos do povo, fazendo dele, o primeiro faraó não egípcio
desde os primórdios da história do Egito, nos seus até então 3000 anos de
história.
O
leitor neste ponto tem a noção de como a passagem de Alexandre foi impactante
no Egito e em sua história, então, vamos ao que importa, a parte do
mistério!!!.
Todas
essas estripulias de um Alexandre megalomaníaco durou apenas 6 meses no Egito, ele
então partiu e nunca mais voltou, 8 anos depois e a milhares de quilômetros de
distancia, na Babilônia, ele morreu de uma doença misteriosa, mas o vinculo que
ele havia feito com o Egito não haveria se rompido.
O corpo de Alexandre se tornou uma arma simbólica, seu poder era tanto que quem tivesse seu corpo, teria consigo o direito de governar todo o império deixado por ele, isso desencadeou então um dos maiores mistérios da arqueologia, pois um rei tão importante como Alexandre, que conquistara 80% do mundo conhecido não poderia ter seus restos mortais sumidos do mapa.
Evidências
Vários
generais de Alexandre começaram uma disputa por seu corpo, pois como disse,
quem tivesse posse de seu corpo, poderia trazer para si a justificativa de
serem os sucessores naturais de Alexandre.
Porém,
Alexandre havia indicado um sucessor, o general Pérdicas foi encarregado de
enterrar o rei morto, mas nunca teve a chance de fazê-lo, outro general chamado
Ptolemeu, (esse que por sua vez era mais, digamos que “brother” de Alexandre),
percebeu que o corpo de Alexandre tinha um enorme valor simbólico, então ele
mandou mumificar Alexandre e o roubou trazendo de volta para o Egito.
Não
existe registros históricos sobre o que Pérdicas planejava fazer com o corpo de
Alexandre, talvez ele trouxesse o corpo para ser sepultado no túmulo real da
família de Alexandre, na Macedônia, mas ninguém saberá ao certo.
Ptolemeu,
que ficara no lugar de Alexandre como faraó do Egito, havia arriscado tudo se
apropriando do corpo de Alexandre, e , malandramente, usou o corpo de Alexandre
para legitimar seu reinado no Egito.
Não
demorou muito para Pérdicas descobrir que o corpo jazia no Egito, e travou
então uma batalha com Ptolemeu às margens do Rio Nilo pelo corpo de Alexandre,
o resultado disso foi a vitória de Ptolemeu e a consolidação total de seu
reinado no Egito, forjando uma dinastia que governaria o Egito por 300 anos.
Essa
seria a principal evidência de que o corpo de Alexandre estaria sepultado nas
entranhas do Egito, mas se está, onde está sepultado??.
Vários
estudiosos acreditam que se Ptolemeu tivesse enterrado Alexandre no Egito, o
local mais provável seria no coração do império, na capital do Egito antigo, em
Memphis, era lá que Ptolemeu teria enterrado, pois seria lá que o Ptolemeu
queria que o corpo estivesse.
Memphis
era a capital cultural do antigo Egito, e a mais importante necrópole de todo o
reino, durante séculos os egípcios enterraram seus mortos num lugar em Memphis
chamado de “Necrópole de Saqqara”, e era
para lá que se acreditam que Ptolemeu levou o corpo de Alexandre.
Ptolemeu
teria uma ideia quase lógica, de enterrar Alexandre onde todos os primeiros
faraós haviam sido enterrados, era do interesse de Ptolomeu fazer daquilo um
grande evento, mostraria portanto que ele era o sucessor de Alexandre no Egito
ao respeitar os ritos funerários do antigo Egito, assim ele mataria uma
cacetada de coelhos com uma cajadada só.
Ai
o leitor Pergunta: “Existe alguma prova disso tudo???”, ai eu respondo: “SIM”.
No
século 19, um arqueólogo Frances chamado Auguste Mariette descobriu uma tumba
disposta em semicírculo próximo ao santuário funerário do Serapeu, localizado
em Saqqara, esse semicírculo por sua vez era adornado com diversas estátuas,
que a princípio era notório que não eram deidades locais.
Tais
estátuas, embora muito danificadas, uma coisa ficava evidente mesmo à uma
análise apenas visual, elas eram gregas.
Mariette
estudou minuciosamente as estátuas, e descobriu uma coisa curiosa, elas
representavam filósofos gregos famosos, porém, elas foram confeccionadas com calcário
do solo egípcio, o próprio Mariette não conseguiu elucidar essa questão, apenas
recentemente os arqueólogos conseguiram uma explicação, que faz a conexão entre
as estátuas estarem ali e serem feitas no Egito.
Elas
não só fazem a fusão entre as culturas Grega e Egípcia, cada uma delas
representa alguém que tinha uma ligação muito forte com Alexandre, como exemplo
a estátua de Homero, que foi autor da Ilíada e da Odisseia, Alexandre via em
Aquilles, o grande guerreiro de Homero como sua fonte inspiradora.
Outra
estátua era de Píndaro, grande poeta grego, suas obras louvam os ancestrais de
Alexandre, outro seria Platão, gigante de filosofia ocidental e também mentor
de Aristóteles, que por sua vez foi tutor de Alexandre.
Tendo
em vista tais fatos, arqueólogos mundo ah fora tem como ponto pacífico que
Alexandre o Grande foi enterrado em Saqqara logo depois do seu falecimento,
contudo, estamos longe do fim da história.
Outras
Evidências..
Existem
evidências de que se caso a tumba fosse mesmo encontrada em Saqqara, ela estaria
vazia.
Um
relato amplamente aceito descrito pelo Grego Porcinus, afirma que o corpo de
Alexandre foi removido do local apenas 30 anos depois que Ptolemeu o depositou
ali, ele foi levado para a cidade que Alexandre havia fundado e que levava seu
nome, a próspera nova capital do Império Egípcio, Alexandria.
Alexandria
foi fundada por Alexandre, mas foi construída por seu até então sucessor,
Ptolemeu, e erigida como uma cidade grega no Egito, era o centro cultural,
estratégico e econômico da recente erguida dinastia de Ptolemeu, em 280aC o
filho de Ptolemeu, levou o corpo de Alexandre para Alexandria, e com isso, ele
tornou Alexandria uma das cidades mais famosas da antiguidade.
Nessa
época, todos sabiam onde ficava o tumulo de Alexandre, era uma das maiores
atrações turísticas até então, existem relatos que “visitar a tumba dourada de
Alexandre” era uma coisa quase que sacra, registros antigos dizem que até o
século III dC sucessivos Imperadores Romanos visitaram a tumba na esperança de
forjar algum tipo de conexão com o maior soberano que o mundo já conheceu.
No
fim do século V dC o Império Romano caiu, como muitas outras coisas que foram
mergulhadas na idade das trevas, a tumba desapareceu.
A
Alexandria moderna guarda pouca semelhança com a que abrigou o corpo de
Alexandre, séculos e séculos de reconstruções empurrarão a cidade antiga para
metros abaixo da superfície, hoje a tumba está desaparecida a 1600 anos,
lendas, meias verdades e até mentiras obscureceram o pouco que se sabe sobre
ela.
O
pequeno grande problema desse fator das verdades e mentiras sobre a tumba de
Alexandre é que mesmo que alguém encontrasse a câmara funerária de Alexandre,
como ela se pareceria?, pois Alexandre era sabidamente Grego, nascido na
Macedônia, com ritos funerários e estilos arquitetônicos específicos, porém,
havia sido primeiramente velado sob ritos funerários Egípcios, mumificado como
um faraó, possivelmente num sarcófago faraônico.
Com
essas questões em mente, os arqueólogos fizeram um estudo para desenhar um
modelo de como seria o túmulo de Alexandre, com base nos enterros reais de sua
terra natal.
Atualmente,
a cidade grega de Vérgina situa-se onde era a antiga capital da Macedônia, e no
ano 2000 foi encontrado um sepulcro macedônio do século IIIaC, da mesma época e
estilo no qual era realizado no período correspondente ao de Alexandre.
Os
arqueólogos acreditam que mesmo Alexandre tendo inicialmente sido velado sob
ritos do Egito Antigo, ele após ser transferido para Alexandria teria sido
depositado em um sepulcro no estilo grego, quiçá Macedônio, tendo em vista que
toda a Alexandria havia sido erigida como uma cidade Grega no Egito.
Quando
se haviam chegado em um consenso em relação de como se pareceria a tumba de
Alexandre, houve uma reviravolta proposta pelo arqueólogo Edward Lewis, Lewis
descobriu um complexo funerário típico do período no qual Alexandre estaria
sepultado em Alexandria, onde salientava claramente a fusão entre a cultura
Grega e Egipcia, esfinges egípcias ao lado de colunas dóricas gregas, em uma
alusão à tumba em Vérgina, um afresco representa cavaleiros macedônios, e tudo
isso numa tumba encontrada por Lewis em Alexandria.
Lewis
acredita, por todas essas
evidências que essa seria mais aceitável como
parâmetro de semelhança com a tumba de Alexandre, até porque, os rastros de
cores encontradas se assemelham tanto com os túmulos macedônios como os
encontrados em Menphis.
Localização...
Segundo
fontes, o corpo de Alexandre se localizava em um lugar chamado Soma, um recinto
murado de enormes proporções, e estima-se que a localização desse Soma seria
próximo ao centro de Alexandria, e ao se vasculhar sobre uma possível
localização desse local, novamente se encontrou outro problema, não se haviam
registros de nenhum monumento que mesclasse as culturas grega e egípcia, e sim
um monumento que se assemelhava com o primeiro mausoléu que se tem notícia, que
foi o Mausoléu de Halicarnasso, ele foi o mais célebre mausoléu da antiguidade,
com 43 metros de altura e feito em mármore, era nesse estilo que os primeiros
alexandrinos construíam seus monumentos, e é igual a esse que se tem notícia
ter havido na região descrita como soma, no centro de Alexandria.
O
Soma seria o Distrito Real de Alexandria, ali estava todos os túmulos dos Reis,
como o túmulo de Ptolemeu, sua mãe e também o de Alexandre.
De
todas as fontes que mencionam tal monumento, a mais aceita dentre a comunidade
de arqueólogos são as fontes citadas pelo geógrafo grego Estrabão, ele foi
testemunha ocular do que relatou ter visto em Alexandria no ano de 24aC, ele
viu o monumento e o corpo de Alexandre.
Ai,
o leitor já cansado de ler pensa, “nossa que bom, as evidências estão cada vez
mais conclusivas”, ai eu respondo...: “SO QUE NÃO”, mesmo que pareçam
extremamente fidedignas, as fontes de Estrabão não são as únicas, existem
inúmeras fontes que apesar de não tão precisas ou detalhadas como as de
Estrabão, igualmente afirmam terem visto o corpo de Alexandre, e divergem de
Estrabão quanto a localização.
Por
mais fascinante que seja, por mais misteriosa e absurda, a tumba do maior
conquistador de todos os tempos sumiu de uma forma a não deixar rastros, e
mesmo com o empenho de anos a finco de inúmeros arqueólogos de todo o mundo, a
Tumba de Alexandre o Grande continua desaparecida, aguardando um dia ser
encontrada, é quase certo afirmar que mesmo depois da queda de seu império, seu
corpo tenha sido escondido, e venerado na clandestinidade como um símbolo de um
semideus, que conquistou o mundo antigo.